sexta-feira, 5 de junho de 2009

Árabes

A conquista árabe conheceu 3 estágios. O primeiro foi militar e político, com o avanço dos exércitos árabes no primeiro século. O segundo foi religioso, tendo principiado com o segundo século do Islã. Durante este período, a maior parte da população do império se converteu ao Islã. O terceiro estágio foi lingüístico, a vitória da língua árabe.
Em 830, a famosa “Casa da Sabedoria” se estabeleceu em Bagdá, era uma combinação de biblioteca, academia e centro de traduções, que foi sob vários aspectos a instituição educacional mais importante desde a fundação do Museu de Alexandria, no Egito, no Século III a.C. Todos os trabalhos dos filósofos gregos Aristóteles, Hipócrates, Galeno e Platão eram, graças às traduções, acessíveis ao leitor árabe.
Os árabes assimilaram a cultura grega e antiga e fizeram uma harmonização do pensamento grego com os ideais islâmicos. Os árabes produziam na medicina, astronomia e na alquimia. Os médicos árabes costumavam visitar diariamente as prisões para controlar a higiene pública. O primeiro hospital do Islã foi estabelecido no Século IX. As clínicas ambulantes apareceram no Século XI. Os hospitais tinham cada um seu próprio dispensário. Alguns eram equipados com bibliotecas médicas e davam cursos de medicina.
Al Razi, médico árabe do Século X, foi, até o Século XV, a fonte principal do conhecimento químico na Europa. A Enciclopédia Médica de Avicena, médico e filósofo árabe, foi a “bíblia” para a educação médica nas escolas da Europa até o Século XVII. Os árabes fundaram a mais antiga escola de farmácia. Já no Século IX, os farmacêuticos tinham de passar por um exame, e os médicos, de se submeter a provas.
A astronomia se desenvolveu para posicionar as mesquitas na direção de Meca.
O pai da alquimia árabe foi Jabir Ibn Hayyan, que deu seu nome – Al Jabir - à álgebra.


CONTRIBUIÇÕES FEITAS AO OCIDENTE

Os portais das instituições educativas da Espanha muçulmana, à partir do Século VIII, ostentavam a famosa inscrição: “O mundo é sustentado por quatro coisas apenas: a sabedoria do sábio, a justiça do grande, as preces do justo e a coragem do bravo”. É significativo que a sabedoria venha em primeiro lugar nesta declaração européia dos ideais muçulmanos.
A sabedoria muçulmana penetrou no pensamento europeu. A Espanha maometana escreveu um dos capítulos mais brilhantes na história intelectual da Europa Medieval. Entre a metade do Século VIII e o início do Século XIII, os povos que falavam árabe eram, por todo o mundo, os principais portadores da tocha da cultura e da civilização. Os agentes da ciência e da filosofia antigas, que foram por eles recobradas, desenvolvidas e transmitidas, possibilitando assim o Renascimento na Europa ocidental.
Os árabes marcaram a Espanha na poesia, na literatura, na música, na arquitetura, nas ciências, na astronomia e na medicina. Várias das cidades espanholas possuíam o que podiam ser chamadas de universidades, das quais as principais eram as de Córdoba, Sevilha, Málaga e Granada. Ao lado das universidades floresceram as bibliotecas. Este acúmulo de livros na Andaluzia (Espanha) não teria sido possível se não houvesse a fabricação local de papel de escrever, uma das mais benéficas contribuições do Islã à Europa. Esta indústria de papel passou à Espanha no Século XII (palha de trigo).
Também um dos termos matemáticos mais interessantes tomados do árabe é o “zero”. Eles ensinaram aos ocidentais o emprego desta tão útil convenção.


ARQUITETURA
A suprema expressão da arte mulçumana foi a sua arquitetura religiosa, só dois monumentos arquitetônicos das mais nobres estruturas do Islã existem até hoje, que são: A mesquita Omíada de Damasco e a Cúpula do Rochedo de Jerusalém.
Os arquitetos árabes desenvolveram um plano de construção simples e capaz de expressar o espírito da nova religião. Assim temos na Mesquita (nome derivado de masjid, que quer dizer um lugar em que se prostra) um epítome da história do desenvolvimento da civilização islamítica nas suas relações interraciais e internacionais.
A mesquita simples de Maomé consistia de um pátio descoberto, cercado por paredes de argila endurecida pelo sol. O teto era formado por troncos de palmeiras que eram usados como colunas, as quais sustentavam na cobertura de folhas de palmeira e barro. Um tronco também de palmeira enterrado no solo, no começo servia como o púlpito de onde o profeta se dirigia a congregação. Mais tarde, foi substituído por uma pequena plataforma de madeira com três degraus, copiada das que se vêem nas igrejas cristãs na Síria.
A arquitetura da casa é bem especial. A porta de entrada de cada casa dava da rua, para um pátio, do qual no centro se encontravam um grande tanque de água dotado de um jato fluente que lançava periodicamente um borrifo como se fosse um véu. Uma laranjeira ou uma cidreira estavam plantadas perto do tanque. Os quartos rodeavam o pátio , que nas maiores casas eram dotado de um peristilo. A peça mais importante da mobília do lar passou a ser o divã, um sofá que se estendia ao longo de três lados da sala, com almofadas colocadas sobre colchões. Os tapetes tecidos a mão são os principais na decoração.
No Século X Bagdá jactava-se de ter cerca de 21.000 casas de banhos públicos, servidos de água corrente quente e fria, os banhos tinham-se tornados populares para homens. As mulheres usavam os banheiros públicos em dias reservados.
Uma tradição profética dizia “A limpeza é uma parte da fé”. A limpeza e as boas maneiras eram coisas importantes numa pessoa. Um autor árabe do século IX escreveu sobre as maneiras de um homem culto, um cavalheiro daquele período: “Era um homem que se fazia notar pelo comportamento cortês, honra máscula e maneiras elegantes, que se abstinha de gracejar, que era amigo das pessoas bem consideradas dotado de altos padrões de veracidade, escrupuloso no cumprimento de promessas e capaz de guardar segredos que lhe fossem confiados. Não vestia roupas sujas ou remendadas e ao comer não enchia a boca com alimentos, conversava ou ria pouco, mastigava sua comida devagar, não lambia os dedos, evitava o alho e abstinha-se de palitar os dentes nos toucadores, casas de banho, encontros públicos ou nas ruas.”
Na arte, os teólogos mulçumanos eram hostis a todas as formas de arte representativa, proibidas pelo Alcorão.
No Islã, a pintura pôs-se a serviço da religião. A pintura mulçumana de caráter religioso só aparece realmente nos princípios do século XIV, influenciada pela arte das igrejas cristãs orientais, como base de seu desenvolvimento a decoração de livros.
A arte de tecer tapetes, que é muito velha, desenvolvem-se de maneira especial. Cenas de caça e de jardins eram as favoritas para os desenhos nos tapetes.
Os caracteres do alfabeto arábico prestavam-se aos desenhos decorativos e passaram a ser um importante motivo na arte islamítica. A caligrafia seja talvez a única arte árabe que se tem atualmente representantes cristãos e mulçumanos em Constantinopla, Cairo, Beirute e Damasco. E suas produções excedem em elegância e beleza a qualquer das obras primas que os antigos produziram.
Um ditado antigo mostra a importância da língua escrita e falada para os povos árabes: “A sabedoria desceu a três coisas, O cérebro dos francos (europeus), as mãos dos chineses e a língua dos árabes.”
A CIVILIZAÇÃO ÁRABE E SUA INFLUÊNCIA NA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL

Porque falar do Mundo Árabe?
O Mundo Árabe é uma região rica em cultura e em tradições, participou muito do desenvolvimento da Europa na Idade Média até o Século XV e também influenciou indiretamente a América Latina através das culturas portuguesa e espanhola, que se espalharam nesta parte do mundo.

O que é o Mundo Árabe?
O Mundo Árabe é hoje um conjunto de países, da Península Arábica, do Oriente Médio e do norte da África. Os legítimos árabes são da Península Arábica. Os países do Oriente Médio descendentes dos povos cananeu e fenício, que se misturaram com os árabes. Os países do norte da África tem mais a influência africana com os povos berberes, originários da região. Todos esses países têm a língua árabe clássica em comum e fazem parte da Liga dos Países Árabes, cuja sede é no Egito.
Foi na Península Arábica que surgiu a religião muçulmana, no Século VII. Essa área era conhecida como um deserto habitado por beduínos.
Quando falamos do Islã, não devemos nos esquecer que há também cristãos em países árabes, como a Síria, o Líbano, o Egito, o Iraque, sendo que neles os islâmicos são a maioria.
Na cidade de Meca, hoje um lugar de peregrinação dos muçulmanos, havia uma divindade chamada Alá, que não era a única cultuada ali. O nome Alá é antigo. O povo de Meca acreditava que Alá era o criador, o provedor supremo, o deus que devia ser invocado por ocasião dos maiores perigos. Não tardaria a soar dos lábios de um homem de Meca a maior frase da língua árabe, que galvanizaria o povo do deserto: “La ilaha illa lah” (Só há um Deus, que é Alá).


O Islamismo
Os muçulmanos denominam a época anterior ao aparecimento de Maomé de período Jahiliya – “era da ignorância” (de Deus). Nessa época, enquanto as estátuas e a arquitetura gregas eram glorificadas, os árabes se glorificaram na literatura e na expressão refinada. Um adágio peninsular diz: “a beleza do homem reside na eloqüência de sua língua”. O triunfo do Islamismo foi, até certo ponto, o triunfo de uma língua ou, mais precisamente, de um livro: o Alcorão. Não há no mundo povo algum, como o árabe, que tenha cultivado uma admiração tão entusiástica pela expressão literária e pela palavra, falada ou escrita. Os árabes antigos não criaram nem desenvolveram qualquer grande arte como a oratória.
O profeta Maomé nasceu por volta do ano 571, na cidade de Meca, na Arábia Saudita. Aos 25 anos de idade se casou com Khadija, viúva de um rico mercador com quem teve 4 filhos. Aos 40 anos, Maomé recebeu a revelação de Deus, que lhe foi trazida pelo Anjo Gabriel, e mais tarde transcrita no Alcorão, que significa “recitação”. Grande parte da força do Alcorão se consubstancia em suas rimas, em sua retórica, em sua cadência e em seu ritmo, que se perdem em suas traduções para outros idiomas.
Maomé conseguiu erigir uma organização social usando a religião como base, ao invés dos laços de sangue. Assim, o laço mais vital das relações árabes até então – o laço consangüíneo ou tribal – foi substituído por um novo, o da fé.
O Alcorão contém, além das leis religiosas reguladoras do jejum, das esmolas e das preces, normas sociais e políticas relativas ao casamento e ao divórcio, ao tratamento dos escravos, prisioneiros de guerra e inimigos.
No Islã, existem 5 deveres ou pilares que o muçulmano deve respeitar: a profissão da fé, a prece, as esmolas, o jejum e as peregrinações.
Os califas que vieram depois da morte de Maomé unificaram os povos da região ao redor do Alcorão e começaram a se espalhar até chegar à Espanha no Século XIII, e até o Afeganistão.
Os árabes não construíram apenas um império, mas criaram uma cultura. Herdeiros da civilização antiga que floresceu às margens dos Rios Tigre e Eufrates (no Iraque), das terras do Nilo - dos egípcios e dos faraós, e das praias orientais do Mediterrâneo, com os fenícios que também assimilaram e absorveram os traços principais da cultura greco-romana.
Assim, serviram como intermediários, transmitindo à Europa Medieval muitas das influências intelectuais que despertaram o mundo ocidental e lhe indicaram o caminho da renascença moderna.
Quando o Islamismo surgiu, se propagou muito rápido, e em apenas dois séculos igualou o esplendor do seu cenário ao do Império Romano.
O deserto não é uma condição geográfica simples, e uma religião, para que triunfasse na Arábia, deveria estar de acordo com o espírito de aventura, a inclinação pela luta e o personalismo exagerado que estigmatizam o árabe, caracteres esses impostos pelo seu meio físico.
O Alcorão, onde está contida toda a religião islâmica, é o reflexo das virtudes e dos vícios, paixões e sentimentos dos árabes, ou melhor, de seu fundador.
Maomé, como acentua Herder, representa bem a expressão árabe; o autor diz de Maomé: “uma mistura de tudo o que poderia produzir sua nação, sua tribo, seu país do seu tempo: mercador, profeta, orador, poeta, herói, legislador, sob cada forma, sempre fiel ao tipo árabe.” (Johann Gottfried Herder – “Idées sur la Philosophie de l’Humanité”).
Outras religiões tentaram penetrar na Arábia, como o Judaísmo e o Cristianismo, sem conseguir resultados. “A moral tão pura do Evangelho, fundada sobre a abstração, não podia satisfazer a um povo demais dócil à voz das paixões materiais”. A simplicidade em que aparece envolta a religião de Maomé é acessível à mentalidade de seu povo.
A organização política da Arábia - inúmeras tribos nômades ou sedentárias - fez com que a finalidade do Islamismo fosse constituir um estado teocrático e militar, sendo seus membros soldados e sacerdotes, não existindo hierarquia religiosa.
Quando Maomé surgiu, já havia a decadência das antigas crenças, como acontecera no Império Romano no tempo em que surgiu o Cristianismo. A Kaaba, verdadeira confederação religiosa onde havia ídolos de todas as tribos, facilitava a unidade religiosa, a adoração de um só Deus, porque todas as tribos, mesmo envoltas no paganismo, adoravam Allah, o Deus de Abraão, antepassado dos árabes, e foi Allah que Maomé reconheceu como o único deus.
O meio árabe já estava preparado quando Maomé surgiu, e ele participou apenas com seu talento e sua inteligência, adaptados às circunstâncias, no desenvolvimento do seu povo. Quando o profeta morreu, quase toda a Península Arábica estava unificada (ano 632).
Os árabes são portadores de uma cultura interessante, que é resultante da assimilação de elementos culturais dos povos vencidos ou com os quais mantinham relações, como os egípcios, os fenícios, os persas, os gregos, os hindus e até os chineses, povos esses detentores da herança cultural da Antigüidade.
A influência árabe é muito grande na Europa. Quando os árabes chegaram à Península Ibérica, influenciaram as letras, as artes, a filosofia e as ciências. As relações comerciais e os casamentos mistos promoveram o contato entre cristãos e muçulmanos. Os casamentos foram numerosos e os encontramos na própria aristocracia: governadores árabes se casaram com nobres cristãs, reis mouros se casaram com princesas espanholas e reis cristãos se casaram com filhas de emires árabes.
Grande era a influência da poesia árabe na poesia medieval provençal européia, não só na matéria e na forma poética, mas também no ritmo. Chamara essa poesia de “poesia andaluza” (Andaluz: como a Espanha era chamada pelos árabes). Guilherme Poitiers, o mais antigo trovador provençal, que viveu no Século XI, foi influenciado pelas “cacidas” árabes.




Civilização Árabe.